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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Bordando a vida

a arte de bordar se mistura com a arte de viver


Há algum tempo atrás escrevi um texto que iniciava assim: “Sempre admirei a arte do bordado. Minha habilidade nesta arte não é das mais apuradas, mas o suficiente para me perder na magia que envolve todo seu significado” http://el.balbo.zip.net/arch2011-07-10_2011-07-16.html (blog já desativado)
Bem, mas o que eu quero dizer é como e porquê este texto me veio à mente ontem após uma visita a uma amiga idosa já com seus 90 anos completos.
Não é de praxe visitá-la. Mas sempre que nos encontrávamos a alegria e receptividade era recíproca. E eu já estava a me indagar o que estaria acontecendo para que ela saísse de circulação por tanto tempo.
Vózinha passa pelo processo normal da limitação pela idade, este agravado nos últimos tempos. Seus passos já estão mais lentos e não obedecem totalmente a seus comandos. O pouco caminhar é para ela um esforço acima de suas forças.
Mas seu sorriso, sua alegria e otimismo e sua mente ainda lúcida não tem limites.
Olhar embaçado? Nem pensar...esse passa longe. O olhar da vózinha revela alegria de viver e tem um “brilho especial”.
Passa os dias envolvida com seus bordados , os quais faz faz com muito carinho e dedicação.
O entusiasmo com que mostrou-me algumas peças tão perfeitas, dignas da melhor confecção revelaram -me uma exímia e caprichosa bordadeira. Pontos minuciosos, executados com paciência e muito cuidado para não se desviar do complicado gráfico tracejado. Os bordados da vovó são verdadeiras preciosidades.
Ao falar-me da família, mostrar-me orgulhosa a foto dos netos, contar da surpresa no último aniversário, foi então que me veio a analogia:
Enquanto borda o tecido, vózinha também borda a vida” O mesmo carinho, o mesmo cuidado no ponto a ponto, vózinha tem também com as relações afetivas familiares.
Bordado perfeito? Sim! Mas quantas vezes ela não teve que parar, observar o gráfico, desembaraçar nós pacientemente, e até ver marcas deixadas pelo constante desmanchar. Assim como as dificuldades na vida deixam marcas. Mas o importante é recomeçar sempre. Rever o caminho .
Pode-se dizer que a arte de bordar imita a arte de viver. “Bordar o tecido é bordar dentro de nós”, diz Fábio de Melo em seu livro “Mulheres de aço e de ferro”. “No entrelaçamento dos fios e linhas os entrelaçamentos próprios da vida cotidiana”
Enquanto borda ela afugenta a solidão, trabalha seus medos, sua ansiedades , supera dificuldades.
E assim, segue ponto a ponto. Como na vida. Passo a passo. Desfazendo nós, retornando no caminho. Desfazendo erros.
Marcas podem ficar. Mas o importante é o valor que se dá a cada ponto. Ou a cada passo.Sempre procurando caminhar com equilíbrio e bom senso.
E assim, em cada ponto dado, em cada emaranhado de linhas, ora seguindo adiante, ora desembaraçando nós, vózinha segue bordando a vida. Bordando e delineando a própria história.

3 comentários:

  1. Edite eu acho o maior legal as suas comparações!!!

    Bordar é mais ou menos isso mesmo: brincar de destino, né não?

    Eu não bordo, não tenho o dom de fazer agulha e linha desenharem belezas...

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    Respostas
    1. E quanto aprendemos com essas vózinhas. Gosto de conversar com elas. Acho de uma riqueza incrível!

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  2. Que texto maravilhoso.. E quantas idéias tecidas e pintadas em cada pontinho dado?
    Lindo demais!! beijos,tudo de bom,chica e obrigado pelo carinho!chica

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